O feminino como inspiração

Pensei em um presente para comprar para uma amiga. Alguém com afinidades. Pensei em diários. Vi dois na livraria que particularmente me interessaram: Diário de Sylvia Plath e Frida Kahlo. O primeiro de uma poetisa famosa e o segundo de uma artista plástica. São duas artistas que certamente viveram intensamente. São duas artistas que não tiveram medo de se expressar. Suas idiossincrasias são visivelmente profundas e relatadas com paixão. Gosto de ler sobre mulheres fortes, mas que na realidade eram a fragilidade em pessoa. São ambigüidades irreconciliáveis. São dualidades que confrontam-se. Virginia Woolf por exemplo, uma autora mundialmente conhecida, escritora de muitos livros, feminista convicta, tinha um pai autoritário e machista, viveu defendendo direitos das mulheres, e como essas deveriam construir seu próprio pensamento a respeito do mundo, como elas deveriam valorizar sua obra intelectual e buscar refúgio nela. No final suicidou-se. Clarice disse que o terrível dever é ir até o fim, não gosta de comparar-se com Virginia, embora o fluxo de pensamento seja um ponto em comum nas duas artistas. Sylvia Plath teve o infortúnio de apaixonar-se por um homem que ofuscou seu brilho e no final abandonou-a, isso foi fonte de angústias, mas também fonte de criação de seu último livro “Ariel”. Frida kahlo, sofreu fisicamente após um acidente bem retratado no filme que fala sobre sua vida. Imobilizada não deixou de criar, colocando nas telas suas mais íntimas revoltas. O homem de sua vida ,Diego, parece ter tido um papel importante na sua vida. São mulheres interessantes, intelectuais, tinham especificidades e distinções que as faziam especiais. De um modo ou outro somos feitos de identificações, formas de olhar, formas de ver, formas de ouvir. Identifico-me com mulheres que foram ou são famosas, que tem visibilidade. Uma atriz: Isabelle Huppert, famosíssima, lindíssima, talentosíssima. De uma fragilidade que dá pena. Simultaneamente a essa fragilidade, ela encontra na arte seu refúgio, sua vida, seu esforço está totalmente voltado para aquela forma. Apesar de suas premiações, as vezes sente-se vazia, não gosta de si mesma, como? Uma mulher com esse talento deveria agradecer aos céus pelo seu dom. Mas ser atriz como ela diz é aparecer para desaparecer, a verdade é que ela quer ser invisível, e nos papéis há o esconder-se essencial, há o mover-se para um lugar aconchegado onde não é visível, onde Isabelle não existe. È isso, é uma vontade de desaparecimento, de viver o insondável, que é não ter a si. O inefável, é o que não se exprime, aquilo que é matéria do impossível, e como ela sabe disso! Identificações não me fazem ser nenhuma das mulheres que admiro, mas tem o papel de tentar ser pelo menos um pouco do que vejo nelas. Quando vejo um filme ou leio um livro de alguém que consegue expressar-se, nossa, como isso me deixa indiscutivelmente embevecida. Fico literalmente devorando cada palavra, cada frase, cada gesto. Como ela conseguiu? Estudar o contexto histórico de tais mulheres me faz refletir.
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