Crime e Castigo

O problema do mundo é que o nosso corpo nem sempre reflete a pessoa que somos. Muitos dizem "Você é o que você come", concordo, em parte, já que a saúde corporal pode ajudar em muito a pessoa que somos. Mas, não é tudo. Eu acho que para definir alguém, a gente tem que conhecer a alma. Achei interessante alguém dizer, que quando olha para as pessoas,não vê o que todo mundo vê, como rostos desconhecidos, mas sim "histórias". E é isso que tenho tentado fazer. Ver os outros cada um com uma história. E é essa história que os especifica, que muda nossa opinião sobre eles. Parece aqueles tratados de sociologia, que tentam mostrar o passado de um criminoso. Alguns mostram o que ele teve que passar para acabar ,enfim, no crime. Ele não simplesmente se colocou ali por querer. Existiram as dificuldades, as penúrias que teve que passar, pois fora obrigado, já que não teve nascimento em berço de ouro.
Eu estou lendo o livro "Crime e Castigo", e realmente ele é denso, li a primeira parte. E o rapaz realmente está em sofrimento intenso antes de cometer o crime, ele está marginalizado, em situação de vulnerabilidade, já que saiu da faculdade, não trabalha, e não tem dinheiro. Dorme o dia inteiro, sua irmã quer casar só para livrá-lo da sarjeta, e a cobradora do aluguel não dá trégua. Ele está encurralado,num beco sem saída, sem ver alternativas. Ainda tem um pouco de compaixão de uma menina jogada na rua, e tenta ajudá-la chamando o policial, mas depois, pensa que aquilo era uma bobagem já que ninguém se importava com ele. Qual seria a razão dele se importar com alguém nessa altura do campeonato ,uma pergunta ética, que por sinal acabou mal.Tenho curiosidade para saber como a história acaba, mas estou ciente de que o autor escreve sobre a psicologia humana como ninguém, e esse livro trata sobre a culpa.
O castigo é a culpa, que ele não consegue expurgar nem com sua racionaldide acadêmica.
Eu estou pensando que a história de cada um de nós parece ser feita de crimes e castigos. Pelo menos passamos por essa dor algumas vezes na vida. Claro, existem os momentos de felicidade. Mas eu estou tratando aqui das situações de extrema pobreza interior, de extremo sofrimento, e o que fazemos com isso. Talvez fazemos o que muitos fazem, culpamos os outros, nossa familia, nossa falta de dinheiro, nosso insucesso profissional, nossa doença. Talvez cometamos um crime e racionalizemos de que nossa historia triste nos levou até ele. Talvez sejamos criminosos inrustidos, ainda não saidos do armário. Mas esse dia não tarda em chegar. Talvez sejamos capazes de matar os nossos semelhantes com a falta de compaixao. Talvez queiramos ser terroristas e matar pessoas em nome da fé. Existem milhares de alternativas. Mas nosssa culpa não vai embora. Ela está ali, presa, como um grude feito na panela. Ela está presente desde o inicio da nossa vida, e ela vem quando nao nos sensibilizamos pela dor do outro, que é, também, a nossa dor. O crime é tentar resolver nossos problemas com a força humana, ou tentar sermos o que nao somos. O nosso castigo é maior do que podemos suportar. E o nosso crime é desistirmos de ser bons.
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