sábado, setembro 02, 2006

John Currin

Tragicômico. Seria uma forma de definir John Currin. Com figuras caricaturais, a pintura do artista leva a sentimentos ambíguos sobre o horror do que vemos, corpos destituídos de perfeição, deformidades nos membros. Será que devemos rir? Há uma desarmonia, uma sensação de ironia, assombro, terror. O que nos leva a rir do que não entendemos? Penso que, talvez, a não- compreensão seja enfim uma dádiva. A falta faz o caminho mais longo, sem a completude, a complexidade nos guia. No entanto, o já feito, já concluído, nos deixa estáticos, como que plenos. Essa sensação de que nada precisa ser somado, como se todos os tijolos já estivessem no lugar, as parede lixadas, a pintura impecável, ou seja, a perfeição da casa, acaba nos levando à uma posição sofrível de espectadores infecundos. Se pelo menos o jardim tivesse que ser regado, se ao menos a porta precisasse de concerto, eu existiria. Se tenho apenas que sentar no sofá confortável e contemplar a mansão que me deram, minhas mãos ficam paradas, como que mortas diante de tanta abundância. Talvez me contratassem para uma melhor decoração, talvez precisassem de uma consultoria para que os quadros nas paredes combinassem melhor com a mobília. Finalmente, a incompletude acaba sendo o melhor acabamento de que nossa alma precisa para se desenvolver, talvez, o que nos falta, seja o que precisamos. Trata-se do absurdo de querer, e quando nos é dado, recusarmos como que fartos. Dá-me comida, mas aos poucos. Dá-me beleza, mas que ela seja vista como o que me completa, que não seja por demais leviana, que não seja vulgar, que seja uma dualidade que me faça pensar, que seja um momento de reflexão, aí eu a quero, a desejo mais do que tudo. Tudo que é inefável é melhor, o impossível me é caro, e o caminho até ele me deixa perplexa.