domingo, junho 04, 2006

"Síndrome de Stendhal"


Essa síndrome está ligada ao prazer estético...descobri em um palestra ministrada por Antônio Quinet, psiquiatra e psicanalista, cujo tema era "Histeria e Teatro". Trata-se de alguém que fica impactado por uma obra de arte, aqueles que vão à um Museu e ao olhar uma peça de arte ficam como extasiados, excitados, tendo orgasmos múltiplos..Já me aconteceu de gostar tanto de um livro que eu ficava embevecida, gostava tanto, que não o queria lê-lo inteiramente, rapidamente..queria degustá-lo aos pouquinhos, sentir aquela sensação suprema com mais intensidade a cada palavra lida, a cada frase como que sentindo aquele gosto diferente, aquela sensação de descoberta, aquela síndrome maravilhosa de que só a arte proporciona aos espíritos mais nobres..Antônio Quinet fala sobre histeria querendo tirá-la do quadro patológico em que se encontra e levá-la a ser vista como uma manisfestação artística como os surrealistas diziam. A histeria está ligada ao lugar do sujeito do inconsciente, um modo de satisfação do desejo. O sujeito histérico desconhece a peça de que é protagonista. O teatralismo histérico é uma mentira. Segundo Charcot, a histeria tratava-se de uma coisa séria, com suas próprias leis, tratava-se de abrir os corpos e ver se há lesão. A histeria seria pura invenção, já que a pessoa era sugestionada. É um termo que vem de "útero". Segundo Quinet, na verdade, trata-se de atravessar o inconsciente, não está no corpo, seriam idéias que se manisfestam no corpo mas por causas inconscientes. A histérica faz uma encenação de uma fantasia. Conta um caso paradigmático em que a paciente tendo um ataque, com uma mão tenta levantar a saia e com a outra tenta abaixá-la. A histérica representa todos os personagens. Segundo Lacan, representa essencialmente tanto o sujeito do desejo e o objeto desejado. A histeria é encenada no corpo. A encenação é para o outro, trata-se de uma manipulação, um exibicionismo. Ela deseja captar o olhar do outro, se manter numa posição, provocar o desejo do outro. " Toda histérica é uma vedete" que vem do italiano " posto bem alto". Trata-se de um laço social, uma provocação ao outro. Elá é um verdadeiro enigma "Decifra-me" é o que diz. É um estado mental em que há a subversão do sujeito e o mundo, uma sedução recíproca, mas não uma patologia e sim um meio supremo de expressão. Lacan diz que deve-se despatologizar a histeria. Um caso da "Bela Açougueira": uma mulher que adorava caviar mas proibia tal alimento de entrar em sua casa. Trata-se de um "desejo de manter o desejo insatisfeito"..olha que interessante...Lacan dizia que era um histério perfeito, assintomático, um histeira artística. Quinet cita "Madame Bovary" que usa a fantasia e o devaneio, vive de reminiscências (romance que peguei para ler depois de tanta citação...)A histeria é sempre inclassificável. As histéricas são amigas do incosciente, a recusa seria um bom nome para a histeria. Uma privação do gozo, o gozo de ser privada. Ela procura o saber, sendo que nenhum saber serve por muito tempo..tem até a "histérica acadêmica" (alguma identificação? ) Ou idealiza ou não quer saber, quer ser um objeto de pesquisa. Ela é por estrutura bipolar, sujeito e objeto. Não para de consumir ou não para de falar. Pode ser objeto de desejo ou uma abandonada do amor. A histeria sempre será um desafio para a ciência. Mas o que o histérico desconhece é que ele tem um papel ativo, ele também cria as situações que vive. Gosta sempre de ser um caso, talvez um caso excepcional que mudaria conceitos universais. Ele tem uma estratégia: ao mesmo tempo que se oferece, se furta do gozo. Dizendo Quinet " Todas as mulheres gostam de ser objeto, só as histéricas se furtam". A grande simuladora " Finge que é dor, a dor que deveras sente". O engano é estrutural, já que ela engana a si mesma. Uma Capitu escrevendo por linhas tortas, contra a megera cartesiana (a razão) "Sou a onde não estou". Um sujeito ausente que coloca a culpa no outro, na terapia perguntaríamos " Qual a sua participação na desordem desse mundo?" . Ausenta-se da cena e coloca-se como vitimado, mas de certa forma é verdade já que essa posição de objeto está na fantasia. É uma realidade psíquica. Sua posição é mentira e verdade: experimenta o seu desejo como o desejo do outro. Mas sua participação é ativa: faz desejar. Quer mais ser amada do que amar. Deseja o desejo do outro. Uma vítima ativa. (Qualquer identificação é mera coincidência...) Ahh..e quem estavam lá: Bidô e Guilherme, os atores maravilhosos da peça de Ibsen..com uma representação histérica das mais apaixonantes...isso acontece comigo né..risos..uma histérica de plantão, uma apaixonada por arte.

1 Comments:

Blogger marcusmota said...

Realmente você esteve lá. Bons comentários, por vezes difusos, mas estimulantes. belo blog.
parabens.
marcus mota.
se quiser, tenho uma home page feia, feia. só prá assustar.
www.marcusmota.com.br

7:46 PM  

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