sábado, outubro 29, 2005

Isabelle Huppert (Sou sua fã incondicional)


Assisti hoje um documentário sobre uma atriz francesa. Ela estava falando sobre atuar no teatro e cinema. Achei um documentário de beleza extraordinária, gosto da arte de atuar, de mostrar-se em sentimentos. Gosto da palavra “despojamento”,entregar-se completamente a uma tarefa e dificilmente sair dali ileso. Ela representava “Medéia” uma peça que exige grande força dramática. Ela encenaria sozinha, parecia um monólogo. Ela disse: Eu sou a prova de que o nada existe”. Parecem falas de Clarice, ela também dizia isso: o nada, o neutro, o disforme. A alma formando-se dolorosamente e sem saber para onde ir. Algo que virá a luz muito depois. Ela encenou filmes famosos como “ A professora de piano”, interpreta papéis difíceis, que exigem grande técnica. Ela disse: “ O ator desaparece em seus papéis, é aparecer para desaparecer”. È verdade, o ator mostra-se descaradamente nas telas, mas esconde-se simultaneamente. Quem ele é? Como é um ser sem contornos definidos, a câmara parece dar a ele a personalidade que almeja, parece que após o enfoque da câmara, depois que todas as atenções voltaram-se para ela, quando há o desligar da câmara, quem sou eu? Ela é uma pessoa extremamente delicada, visivelmente profunda, uma profissional maravilhosa. Parece que se a tocarmos ela pode desmoronar, desmontar, de tão maleável. Gosto de pessoas que importam-se em descobrir a essência das coisas. O olhar superficial é aquele olhar amorfo, sem vivacidade, amortecido. O olhar cotidiano não me interessa, interessa-me o olhar que se lança na estranheza do mundo e não se conforma em apenas ver, mas tenta dar forma, tenta dar sentido e significado a uma existência que precede a essência. Ser o dono de si não é ser dono do mundo, não é a grande luxúria de estar vivo. Ser dono de si é acima de tudo respeitar-se além dos outros, saber seus limites, não ultrapassa-los, pois sabe-se que se for além do que se quer, pode-se ir além do que se busca.