sábado, outubro 29, 2005

O conto do Camaleão


Havia um certo lugar bem longe de tudo que se conhece, de tudo que alguém pudesse um dia imaginar. Dentro dele estava a mais bela floresta que poderia um dia existir. As árvores eram gigantes, as flores luminosas, as folhas espalhavam-se pelo chão. Ali poderia haver um cenário fantástico para que uma história pudesse ser concebida. Uma história de amor, de aventura, de desejo. Dizia-se que os deuses habitavam ali, também haviam seres extraordinários que brincavam por entre a vegetação. Seres alados, pareciam borboletas, pássaros com aparência humana. Uma característica comum a esses seres eram suas cores. Todas sem exceção coloriam-se com variações surpreendentes, amarelo, vermelho, azul. Tudo combinava com o céu cheio de nuvens formando figuras divinas. O sol interpunha-se por entre elas e as faixas de luz eram mais um elemento da paisagem. Um ser chamado Borboleta-moleca dançava ao som da alvorada, dos cantos vindos de algum lugar daquela terra, um som melodioso, que exaltava o espírito. A música movimentava as folhas, o ar soprava.
A história a ser contada era a de um camaleão que habitava as frestas. O camaleão sabendo ser um agente secreto, mudando de cor o tempo todo, camuflavava-se. Mas surpreendentemente houve uma cor que não conhecia, não poderia então transmutar-se nela. Como esconder-se se aquela cor era tão diferente? Por mais que tentasse não conseguia. Começou a suar, estava chegando ao desespero quando o pássaro do paraíso o interrogou: Porque se sente assim camaleão? Respondendo o camaleão disse: Até agora sempre fui um exímio falseador, me transmutava, me transformava, sempre fui capaz de me adaptar nas mais diversas situações, sempre me escondendo dos predadores, sempre fugindo de situações. Mas hoje, por incrível que pareça, essa minha habilidade não me serviu, pois a cor que agora vejo é desconhecida, ela é diferente do azul, do amarelo, do vermelho e de todas que até hoje foram o meu disfarce. Agora estou nu de corpo e alma, essa cor me venceu. Não posso fugir dela, ela resplandeceu sobre mim sua fúria, ela quer me maltratar. Então o pássaro paciente e sábio respondeu: Não camaleão, você está enganado. Essa cor é conhecida por você, é a cor com que você nasceu, aquela que você já não se lembra mais. È a cor mais viva que existe pois ela é a verdade. Você não mais a reconhece como parte de você porque você acostumou-se com as outras cores que fingiam ser suas aliadas na luta pela vida. Mas hoje, você como por um encanto, por um breve momento lembrou-se de seu ser verdadeiro, da sua essência. O camaleão em lágrimas disse: “você está certo oh pássaro sábio e bom, eu havia me esquecido de que essa cor é aquela que minha mãe me concedeu, agora vejo com clareza que preciso entender o que ela quer me dizer, talvez seja que eu fugindo dela desde que aprendi a me transmutar só estava fugindo de mim mesmo. Agora prometo, mesmo que as outras cores ainda sejam minha arma de sobrevivência, entrar em contato comigo mesmo, parar algumas vezes e saber o que eu sou.