O sentimento de pertencer

O sentimento de pertencer. É algo que não se tem ao acaso. É necessário um nascimento em algum lugar especial. Praga, Sicília, Veneza. Três cidades que não conheço, então não faço parte delas. Estão distantes, o que posso é ler sobre elas e pensar um dia conhecê-las quase como uma vontade sonâmbula. Falar dessas cidades ,portanto, é uma difícil tarefa, tarefa que se prolonga quando faltam as palavras certas. O sentimento que quero definir não tem nome. È o sentido que a terra onde nascemos tem para nós. Nasci em Brasília. Mas a verdade é que não faço parte dela, não a desfruto por inteiro, não a tenho em sua totalidade, ela é imperiosa e acaba por soberbamente elevar-se acima de seus habitantes. Nenhum ser a alcança por mais que tente. Ela está inteiramente sozinha no meio do que chamaria de mar arenoso. Cidade refletindo a estética adequada: o moderno absorveu consigo a humanidade, ou o que ela teria significado um dia. Na ânsia de si manter altaneira, livrou-se de suas imperfeições e aboliu os rios pequenos. Voltou-se para si com total despojamento ignorando o que a faz viver. Seus habitantes sentem-se morando em uma terra que não é sua e sim de algum projetista esteticamente exilado, que quis uma terra só dele, mas que desprezou os outros. A natureza é dadivosa, consegue preencher os lugares vazios que transpassam o passante em Brasília e o fazem sentir-se pequeno. Há um inconformismo por minha parte em relação a esse império eterno, gosto dele, sinto-o em seus aspectos iluminados, mas mesmo assim ele subjulga a minha existência e me faz lembrar que a liberdade é um sonho triste.
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