segunda-feira, novembro 07, 2005

Dê cordas à sua imaginação


Escrever sobre o processo de escrita é o que me toma no momento de um pessimismo persistente em que a imaginação ainda não evoluiu a ponto de falar sobre outros contextos. O processo não é nada fácil como o resultado final parece mostrar. É como ver um quadro já pronto, contemplar a sua já concluída formulação não é escolher as tintas, não é passar o pincel delicadamente por sobre a tela, não é ser tomado por algo desconhecido, não é esperar que a tinta fresca seque, é apenas um olhar. Claro, que o olhar de quem contempla, o segundo olhar, é muito importante. Mas não compara-se ao criar. Criar é o movimento, é o sopro de vida, é caos selvagem imprimido no corpo que encontra a arte de se mostrar por meio da pintura, por meio de uma replicação não muito lúcida do real, por meio de um vislumbre de um sonho nas tramas do inconsciente. A mudez diante da tragédia é uma vergonha. Fechar os olhos e não querer enxergar parece ser ainda mais trágico e ilusório. Acho que falar, ouvir e ver no mundo humano não é confortador, às vezes chega a ser desesperador, chega a ser um grito de socorro. Mas, ser tomada por uma febre criativa e confrontar-se com contextos novos e brilhantes é o que de mais confortador existe, é o que livra da falta de ar, é o alento diante do cansaço, é o sim ao em vez do não. Afirmações, seja! Apareça! Existe vida e ela pode ser ornamentada, acariciada, leve e brincalhona. Olhe para a tela e pense em seu escritor. Ele a pintou de forma inusitada e aquele é um retrato de um mundo em formação. Surpreenda-se com a vida, olhe para a criatividade. Parecem ser bons conselhos. Bem, tenho tanto a falar mas as palavras por vezes me faltam, assim, como me faltam tantas coisas. Engraçado que a falta, quase que franciscana, parece me privar de destinos mais fabulosos, mas ainda assim me faz ser quem eu sou. Nasci orgulhosa, isso sei bem, se não fossem as privações teria me transformadoem uma esnobe, uma dondoca que não se importa com os outros. Mas o meu destino mostrou-se diferente, as privações vieram e eu me tornei cosnciente delas. Junto com as faltas, vieram abundâncias, e essas eu poderia dizer que me alimentam a alma e me nutrem de alegria, claro a única que cabe no corpo. "Se é que a alegria cabe em um corpo de mortes tão suaves". Bem, ela cabe sim.