Peixes

Clarice com sua introspecção aguda ultrapassa as fronteiras do querer e chega a suportar sérias contradições que insiste abrigar. Clarice é uma mulher vaidosa, formosa e suculenta. Ela pensa que por ser um ser inspirado pode chegar ao sobrenatural sem muito esforço. Clarice é um ser essencialmente escrito em linhas tortas tentando endireitá-las para que um dia possa andar em linha reta ao invés de labirintos sombrios. Andar diretamente rumo a um abrigo é o que faz Clarice sobreviver, ela anda pela tempestade chorando de paixão, e encontra passarinhos, diversos seres alados a sobrevoar o céu. Ela pensa que as asas são extensões que ela mesma gostaria de possuir pois as asas são instrumentos para um vôo prolongado. Os pássaros ficam cruzando o céu, fazendo piruetas perigosas, sem medo algum do ar, o ar os sustenta com tamanha precisão que não importa, há um equilíbrio entre a asa e o ar, entre um pássaro e outro, como uma grande sinfonia que não pára nunca de fluir música. Clarice pensa que é um pássaro quando avista um, ela tem esse delírio, e não pensa ser louca por imaginar ter asas, pois as asas são para qualquer um que queira possuí-las ora! Se Clarice quer uma asa, quem sou eu para não conceder uma asa para ela? Então agora poderia dar a ela um ar fantasmagórico, cujo principal objetivo é assustar o leitor , e dizer a ele que os fantasmas da imaginação são mais reais do que a própria realidade pode parecer ser. Se pássaros são extensões do céu, se o ar os sustenta, porque Clarice também não pode ser um pássaro? Ela, agora, cansou de suas asas, pensa ser um ser aquático cuja extensão é o mar. O mar é feito para os peixes, grandes e pequenos, não para Clarice...Mas ela insiste em transformar-se por um minuto em um peixe e nada nas imensidões do oceano, agora ela respira debaixo dágua, possui brônquios, possui escamas, e seu nado é tão belo...ela queria também ser uma água viva, aquelas medusas que são transparentes e possuem tentáculos. Ela adora as águas vivas, são seres extraordinários, são seres aquáticos, seres que vivem nas profundezas. No momento em que ela pensa ser uma água viva, subitamente Laura entra pela porta do quarto e a repreende por ter deixado o peixinho no aquário morrer sem comida! Laura diz: “Você, sua cabeçuda, não lembra do peixinho? Agora ele morreu. Não voltará mais!” Clarice sente-se profundamente culpada pela morte precoce do peixinho, sente-se totalmente aflita por ter provocado a morte do peixe..mas pêra aí...e se ela se imaginando peixe, por meio de alguma coisa misteriosa, tivesse roubado a vida do peixe e se transformado nele? Então houve uma transferência..no mesmo momento que ela queria ser peixe, o peixe imaginava querer ser um ser humano! Mas ele como era muito pequeno, sua força também era pequena, e ocasionou a morte. Ela roubou a vida aquária com seu pensamento, enquanto ela era o peixe, o peixe deu vida a ela para que pudesse enfim experimentar o peixe. “Clarice! Sua maluca..você não está me ouvindo?” Diz Laura repreendendo novamente sua irmã Clarice...”Você precisa entender que o peixe deveria estar com fome..agora temos que comprar outro!” Clarice fica pensando que ela não quer comprar outro peixe, aquele morrera afim de dar vida a ela...porque querer outro...ela poderia muito bem matá-lo pois nunca se sabe...de repente sua imaginação volta a querer que ela seja peixe..e o peixe seja por demais fraco..”Não...Laura..eu não quero mais peixe! Não quero mais peixes mortos aqui! Eu o matei! Queria ser assim como ele...e ele morreu porque eu roubei sua vida!” Ele não morreu de fome..eu tinha dado comida antes de sair..coitadinho! “Deixa de maluquices Clarice...como roubar a vida de um peixe?” “ Mas, eu roubei!”... Clarice é por demais sensível as coisas do ambiente, pensa que só porque pensou em ser peixe, isso ocasionou a morte do mesmo...
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