A história que quero contar

A história que quero contar é um entrelaçamento, são histórias que se relacionam com as outras de maneira a uma se sobrepor a outra sem prévio aviso. È a história de uma mulher, uma pessoa que encontrou-se na literatura e começou a viver dela. As letras já não eram impressões fortuitas, não eram esquecimentos imediatos do que se acabou de ler cujo significado foge quando não se vê utilidade para ele. Não. As letras pularam dos livros e com elas o significado enobreceu-se, somado à realidade sufocante, os livros mostraram-se mestres da imaginação, da ilusão. O confortável assento em um sofá foi dono do sonho. Esse livro já o quero a tempos, já o desejo a todo o momento, é só abrir os olhos e os pensamentos saltam grotescamente querendo as páginas de algum caderno faminto pelas frases ainda não escritas. Nesse livro mesclam-se com pouca nitidez a ficção e a realidade, o conto e a crônica, a prosa poética, os não lugares comuns de uma época sombria. Bem, não é nada fácil escrever quando as privações inundam a mente com preocupações a respeito do futuro. Mas, como ele ainda não existe de forma paupável, e como não tenho a mínima idéia da justificativa de pensar a todo momento o que será dele, proponho um apanhado geral acerca do passado e do presente, deixando o futuro nas mãos do destino e do acaso. Se você não acredita nesses dois senhores do tempo, então, queira desculpar-me mas não há outra alternativa mais sensata do que acreditar neles e prosseguir no caminho.
Clarice, uma mulher cheia de ambigüidades, e qual mulher não teria tal disposição? Bem. Então deixe-me começar outra vez: Clarice, uma entre tantas mulheres cheia de ambigüidades (creio que assim está melhor), voltou-se para dentro de si com total desespero a procura de si mesma. Sua busca do tesouro perdido levou-a à reflexões sofríveis e quase acaba com a pouca saúde que tem. No entanto, Clarice é uma mulher inteligente, autêntica, forte. Eu diria tratar-se do alter-ego de um cavalherio medieval, montado em seu cavalo selvagem, a percorrer o campo ilimitado, lutando em guerras mundiais. Ela cavalga em seu cavalo, o único que possui, e quando está ali, não imagina que a guerra começou. Quero dizer, mesmo sabendo ser um cavalheiro, ela esquece-se por um momento de sua missão, e acaba por ser destroçada pela lança do inimigo. Que história hilária, parece um romance de meia tigela. Devo começar do início, pois a boa literatura informa enquanto entretém, palavras do mestre das histórias fantáticas, Isaac Singer, prazer em conhecer. Vejo que as histórias atuais são recheadas de críticas mordazes à sociedade em que vivemos, é quase uma paródia dos tempos sombrios que habitamos. Então como fugir de tamanho fulgor imaginário que preenchem as páginas de nossos escritores contemporâneos. Impossível eu diria. Os pensadores atuais são por demais cínicos, austeros, críticos em demasia e principalmente altamente realistas, sem a mínima pouca vergonha na cara. Eles falam em linguagem coloquial, chula, sem o mínimo pudor, então porque ir contra a corrente? A leitura contemporânea é assim, meu bem, chama o escritor para a realidade nua e crua, quase vomitando em cima dos valores tradicionais, parece que o mundo está “cagando e andando” para as etiquetas, e é difícil desistir de nossa animalidade em um universo corrompido até mesmo nas entranhas de seus livros. Então, amado leitor, se você está a procura de um bálsamo para suas feridas abertas, digo que dificilmente o encontrará nos livros atuais, pelo menos não no nosso recém nascido século. Até agora tudo que li a respeito de nossa sociedade, é o apodrecimento das relações humanas e seu desespero diante da finitude. Tudo bem, nem tudo são flores, mas ainda assim há esperança. Um legado de nossas antepassados é definitivamente a persistência com que alguns humanos vivem e não sucumbem na primeira tentativa. È isso mesmo que venho tentando fazer, escrevendo um livro que poucos lerão, mas que pode dar um alívio às partes mais cruas da realidade. Como assim meu amado escritor diria você? Se você já começou por definir mazelas inomináveis de nossa raça? Bem, olhar para a realidade pode ser menos cruel quando você a olha com olhos fantásticos, com olhos esperançosos. Olhe-a. Ela está a mão. Um livro a ser escrito com a docilidade das letras e suas formas artisticamente trabalhadas. Aventure-se. Eis meu convite
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