
"Neste fim, nesta morte de Moisés, podemos no entanto sentir um parentesco humano por baixo das enormes diferenças. A descrição do velho ainda vigoroso traz-nos à memória a grandeza antega do Moisés de Miguel Ângelo, de longos braços, costas direitas, olhos de águia, um homem que depois de tantos angustiosos encontros com Deus e de tantas desilusões com o seu povo pôde enfrentar a morte sem pestanejar. Também nós morreremos sem termos terminado aquilo que começamos. Cada um de nós teve na sua vida pelo menos um momento de descoberta, um monte Sinai - uma experiência tão fantástica e sobrenatural que consegue parar o tempo, que consegue de algum modo penetrar através do sujo e barulhento presente, a descoberta que, se a deixarmos, nos transportará pelo resto da vida. Mas como Moisés ou Martin Luther King, embora possamos recordar-nos de "ter estado no cume da Montanha" não entramos na Terra Prometida, apenas a vislumbramos fugazmente. "Nada que valha a pena fazer", escreveu Rein Hold Niebuhr, "pode ser realizado no nosso tempo de vida, portanto temos de ser salvos pela esperança. Nada que seja verdadeiro, belo ou bom, faz completo sentido em qualquer contexto histórico imediato, portanto, temos de ser salvos pela fé. Nada do que fazemos, por mais virtuoso que seja, podemos fazê-lo sozinhos, portanto temos de ser salvos pelo amor. Que a realização é intergeracional pode bem ser a mais profunda das descobertas dos hebreus". (Herança Judaica, Thomas Cahill)