terça-feira, janeiro 19, 2010

Acordeon


Será possível transformar certas lembranças em poesia?
Ela conhecia a música e sabia de seu poder de influência. Fez aulas em um conservatório perto de sua casa, e quando criança ganhou um acordeon de seu pai. Aprendeu algumas canções e acabou se despedindo cedo demais daquele mundo. No entanto, ele logo iria interpôr-se ao seus planos no dia mais importante de sua vida: seu casamento. Nos preparativos, procurou sem descanso um pianista que soubesse tocar a marcha nupcial, mas não o encontrou a tempo. No dia do evento, a forma que encontrou foi colocar um disco de vinil a tocar, a música saiu das caixas de som, sem o frescor da música ao vivo. Aquilo ocupou seus pensamentos por muito tempo, até encontrar uma solução que expurgaria sua decepção: colocaria todas as suas esperanças nos filhos que viriam, eles sim poderiam limpar sua alma, e dar-lhe uma nova canção que tiraria de sua mente a decepção. Então vieram três. Sua filha do meio, aos oito anos, ganhou um piano. Um grande instrumento que encheu a sala de estar de significado. Entrou no conservatório como ela havia entrado na infância. E começou a tocar, mas sem sucesso. Ainda assim, nada estava perdido: o filho mais velho! Então, ele foi para o piano, viram seu talento, começou a tocar em casamentos e festas. Formou uma banda! A sua esperança estava salva. Ela tinha um sentido. Sua filha do meio desiludida, procurou o acordeon ,agora, relíquia, guardado no fundo do guarda roupa. E lembrou quando tentava tocá-lo, de que era preciso afiná-lo, para que produzisse o som verdadeiro.
Então escreveu um conto chamado 'Acordeon' para também lavar a sua alma. Que segredos guardam um pequeno instrumento escondido? Talvez, como o acordeon vai e vem em sua lida, para produzir som, as gerações precisem de fôlego novo para mudarem o rumo da história.