sábado, novembro 12, 2005

Billy Elliot





Garoto de 11 anos mora em uma pequena cidade na Inglaterra. Billy rodeado pelas aflições de seus familiares tem que enfrentar suas aulas de boxe que odeia. No entanto, felizmente ele tem a sua salvação nas aulas de balé que troca para sentir-se de alguma forma mais adequado em termos de seu corpo inadequado para o boxe. Sua professora é uma mulher que fuma compulsivamente e dá aulas de balé para meninas que demoram a acertar os passos. Ela vê um grande talento em Billy e começa a treiná-lo. Seu pai vai contra o seu sonho e diz que o balé é para meninas e não para meninos. Meninas talvez sejam mais delicadas em seus gestos, mas definitivamente Billy contraria as regras da tradição e dança gostosamente. A dança seria um "desaparecimento de si", uma ausência de seus problemas conflituosos, de sua busca de si, de sua angústia, seua solidão, sua fragilidade. Parece ter fogo queimando, eletricidade nos pés, paixão. Dançar é uma forma de esvaziamento, de perder-se, entregar-se, sonegar-se, uma encarnação da música que do ar transforma-se em movimento visível e não somente uma experiência sonora, ela é vida, som, sonho, mundo! A música e a dança mudam a vida de Billy, ele treina tanto que acaba aperfeiçoando-se. É aceito em um renomada escola em Londres que o torna um grande bailarino, e ainda consegue a admiração do pai e irmão. Isso é uma lição, uma lição latente, gritante, uma lição de persistência quando tudo diz não. Ele dança. Quando tudo diz não, ele mexe freneticamente seu corpo rumo ao sonho. Quando tudo diz não! Ele diz sim! sim! sim! Eu consigo, eu persisto, eu não desisto!

Energia Pura




Gostaria de falar sobre esse filme que me toca de maneira diferente cada vez que é visto. Filmes são úteis não apenas para esquecermos por algumas horas a realidade em que existimos, mas também para a reflexão de atos similares aos nossos, nos vermos, por vezes, na tela que parece retratar muito bem nossos estados de seres humanos sempre em busca de soluções para nossos conflitos. O filme "Energia Pura" mostra um garoto muito especial vivendo escondido no porão da casa de seus avós. O que fez para viver marginalizado? Absolutamente nada. Na verdade, ele nasceu com uma aparência bizarra para os padrões saudáveis. Ele não tinha pêlo nenhum no corpo e sua pele não tinha coloração, deixando-o branco e pálido, além de seus olhos acizentados. Quando no ventre da mãe foi atingido por um raio que o eletrizou e o parto foi difícil para sua mãe levando-a ao óbito. Seu pai, a partir de então o rejeitou como filho. Mas o que tinha ele de tão especial? Ele tinha uma memória inacreditável, vivia em meio a diversos livros que conseguia compreender e nunca se esquecia de frase alguma, adorava estudá-los. Além de ter uma inteligência enorme, podia sentir tudo ao seu redor de uma maneira muito além das pessoas que conhecia. Sentia, experimentava, degustava cada movimento por menor que fosse, de todas as criaturas humanas ou animais que encontrasse. Podia ler pensamentos e parecia muito chateado com o que via os outros fazendo, principalmente com atos cruéis praticados sem compaixão. Ele tinha uma energia que transbordava e que não cabia em si, atraindo como imã os metais. O que aprendi? Bem, que as aparências são máscaras bem colaras na nossa face, e que somos seres bem maiores e complexos do que imaginamos ser, sendo um mistério o que poderíamos fazer se não tivéssemos medo de tentar colocar para fora tudo que temos dentro de nós. Esse tudo encheria de alegria aqueles que não foram abençoados. Céus se abririam para todos os que estivessem ao nosso redor. Existe a esperança, a fé, o amor, de que um dia isso será possível, mas quando esse tempo chegará?

Teus olhos


Acordei em me vi com teus olhos. Tomando os olhos do outro passo a ver-me com uma forma diferente da minha. Mostro-me preocupada com o que vejo e fecho subitamente os olhos. Não quero enxergar o que vejo e não quero ver o que nunca pensei sobre mim. Dá-me olhos que não mintam sobre a minha imagem. Mostra-me o que sou o que posso construir com a minha essência. Sopra o teu fôlego sobre a minha boca e assim viverei a tua vida em mim. Quero ver-me imponente por sobre as opiniões que não aceito. Quero ver-me como uma lua iluminando a noite escura e fria. Sonho ser tua e que o que és seja também o que sou. Essa união perfeita mostrasse-á forte e assim violará todas as inverdades que não mais serão ditas.

A verdade


Viagens nem sempre são dádivas. Os acontecimentos por eles mesmos não trazem consolo. Concluí que a única resposta à crises indefinidas é a prática da verdade. Não aquela imbuída de insultos e desaforos, mas aquela que deve ser dita com cuidado e singeleza. A verdade pode curar como também pode trazer malefícios que gradualmente vão se tornando bons. A verdade é a virtude do não fingimento, da não falsidade, é o apego a valores maiores do que os que estão aí prontos para serem comprados a preço barato, e dispensados rapidamente quando a verdade os mostra inúteis. Os valores como a etiqueta e os bons modos podem valer para regular comportamentos que não trariam uma humanização da sociedade, mas, a verdade é o valor que reduz os homens e sua cultura em algo tão pequeno que acaba por levar a pensamentos bem mais complexos. A verdade reduz os homens. E é por isso que ela é tão rejeitada. A verdade não ornamenta o mundo, não o sensibiliza, não o mostra tão belo como em festas enfeitadas com balões. A verdade não tem glamour, não tem maquiagem. A verdade é naturalmente natural. É radicalmente real. Ou seja, ela chega no limite e não o prolonga. Ela é o ponto final sem vírgulas de respiração. Ela é a vida em sua nudez, em sua vigília, em sua sonolência de olhos abertos. A verdade abre os olhos, denuncia os crimes, mata a mentira. A verdade é a luz da manhã que adentra os olhos que grudados movem-se tentando enxergar. A verdade é acordar, despertar, depois de um longo sono de ilusão. Ela é o medicamento eficaz para o homem.

Peixes


Clarice com sua introspecção aguda ultrapassa as fronteiras do querer e chega a suportar sérias contradições que insiste abrigar. Clarice é uma mulher vaidosa, formosa e suculenta. Ela pensa que por ser um ser inspirado pode chegar ao sobrenatural sem muito esforço. Clarice é um ser essencialmente escrito em linhas tortas tentando endireitá-las para que um dia possa andar em linha reta ao invés de labirintos sombrios. Andar diretamente rumo a um abrigo é o que faz Clarice sobreviver, ela anda pela tempestade chorando de paixão, e encontra passarinhos, diversos seres alados a sobrevoar o céu. Ela pensa que as asas são extensões que ela mesma gostaria de possuir pois as asas são instrumentos para um vôo prolongado. Os pássaros ficam cruzando o céu, fazendo piruetas perigosas, sem medo algum do ar, o ar os sustenta com tamanha precisão que não importa, há um equilíbrio entre a asa e o ar, entre um pássaro e outro, como uma grande sinfonia que não pára nunca de fluir música. Clarice pensa que é um pássaro quando avista um, ela tem esse delírio, e não pensa ser louca por imaginar ter asas, pois as asas são para qualquer um que queira possuí-las ora! Se Clarice quer uma asa, quem sou eu para não conceder uma asa para ela? Então agora poderia dar a ela um ar fantasmagórico, cujo principal objetivo é assustar o leitor , e dizer a ele que os fantasmas da imaginação são mais reais do que a própria realidade pode parecer ser. Se pássaros são extensões do céu, se o ar os sustenta, porque Clarice também não pode ser um pássaro? Ela, agora, cansou de suas asas, pensa ser um ser aquático cuja extensão é o mar. O mar é feito para os peixes, grandes e pequenos, não para Clarice...Mas ela insiste em transformar-se por um minuto em um peixe e nada nas imensidões do oceano, agora ela respira debaixo dágua, possui brônquios, possui escamas, e seu nado é tão belo...ela queria também ser uma água viva, aquelas medusas que são transparentes e possuem tentáculos. Ela adora as águas vivas, são seres extraordinários, são seres aquáticos, seres que vivem nas profundezas. No momento em que ela pensa ser uma água viva, subitamente Laura entra pela porta do quarto e a repreende por ter deixado o peixinho no aquário morrer sem comida! Laura diz: “Você, sua cabeçuda, não lembra do peixinho? Agora ele morreu. Não voltará mais!” Clarice sente-se profundamente culpada pela morte precoce do peixinho, sente-se totalmente aflita por ter provocado a morte do peixe..mas pêra aí...e se ela se imaginando peixe, por meio de alguma coisa misteriosa, tivesse roubado a vida do peixe e se transformado nele? Então houve uma transferência..no mesmo momento que ela queria ser peixe, o peixe imaginava querer ser um ser humano! Mas ele como era muito pequeno, sua força também era pequena, e ocasionou a morte. Ela roubou a vida aquária com seu pensamento, enquanto ela era o peixe, o peixe deu vida a ela para que pudesse enfim experimentar o peixe. “Clarice! Sua maluca..você não está me ouvindo?” Diz Laura repreendendo novamente sua irmã Clarice...”Você precisa entender que o peixe deveria estar com fome..agora temos que comprar outro!” Clarice fica pensando que ela não quer comprar outro peixe, aquele morrera afim de dar vida a ela...porque querer outro...ela poderia muito bem matá-lo pois nunca se sabe...de repente sua imaginação volta a querer que ela seja peixe..e o peixe seja por demais fraco..”Não...Laura..eu não quero mais peixe! Não quero mais peixes mortos aqui! Eu o matei! Queria ser assim como ele...e ele morreu porque eu roubei sua vida!” Ele não morreu de fome..eu tinha dado comida antes de sair..coitadinho! “Deixa de maluquices Clarice...como roubar a vida de um peixe?” “ Mas, eu roubei!”... Clarice é por demais sensível as coisas do ambiente, pensa que só porque pensou em ser peixe, isso ocasionou a morte do mesmo...

segunda-feira, novembro 07, 2005

Sincronicidade


Continuando a falar sobre eventos sincrônicos. O povo judeu tem estado em meus pensamentos ultimamente, mas como eu comecei a pensar no judaísmo? Bem, sou de família cristã, e as histórias bíblicas sempre estiveram na pauta de meus estudos na igreja e em casa. Ouvi diversas histórias: a criação do mundo, Adão e Eva, Abraão, Moisés, Jonas, o dilúvio, só para citar algumas. O povo judeu segue a Torá que seria o velho testamento. Ou seja, há uma familiarização desde que me entendo por gente. Sempre histórias de superação e esperança. Então, já adulta, na faculdade de psicologia, estudando na mesma sala que um jornalista fotográfico ele me pergunta: Você é judia? Eu, estranhando a pergunta, digo que não. Penso: “Porque será que ele achou que eu era judia?” Pergunto a algumas pessoas a esse respeito e todos dizem que meu rosto tem algo de judeu. Outro evento seguinte: Eu,, sentada na faculdade, rindo e conversando com uma amiga e aparece um homem carioca andando, ele pára subitamente e vem conversar comigo: “ Você parece aquela atriz...” Conversamos um pouco e descubro que ele é judeu!” Pois é, ele fala um pouco dele, de suas realizações, um exemplo vivo de um judeu realizado, na verdade, se realizando em várias áreas. Eu fiquei surpresa. Aquilo não me saiu da cabeça: será que todos os judeus são assim? Ele gostava de literatura, havia escrito um livro com prefácio de Moacyr Scliar, o que, curiosa, descobri que trata-se de um dos autores judeus mais premiados do Brasil, com livros traduzidos para diversos países. Eu fiquei atônita. Como uma curiosa nata, pensei: Vou procurar mais exemplos, ver se minha hipótese tem fundamento. Olha, descobri coisas surpreendentes. Folheando livros na livraria, descubro: Isaac Bachevis Singer. Um prêmio Nobel de literatura, escritor Polonês que escrevia em índiche, língua judaica. Com prefácio nada mais nada menos do que Moacyr Scliar!!!! Engraçado né...então fiquei fascinada pelo escritor, li sua biografia, entrevistas, alguns contos. Ele vem de uma família pobre da Polônia e viu na literatura um modo de vida. Para mim a literatura sempre foi a salvação, sempre me colocou em mundos distintos, como Paul Auster disse: “ Quando alguém consegue viver imerso em suas histórias, o sofrimento desse mundo desaparece”. Isaac Singer tinha um pai que seguia o hassidismo, um tipo de judaísmo diferente do ortodoxo, muito mais místico e com ênfase em histórias. Isaac se tornou um contador de histórias pois herdou a tradição. (e qual tradição não é herdade não é mesmo? Todas). Bem, logo após li alguns livros de Moacyr Scliar e vi que ele parte das leituras de Isaac Singer e faz histórias esplendorosas com esse material imaginário e de pesquisa. Vi que o misticismo está entranhado nesse povo sofrido, mas em grande parte vitorioso em seus empreendimentos. Dê uma olhada nos prêmios Nobel, muitos judeus, muitos! Só prêmio Nobel de literatura são três nos últimos anos. È de se espantar! Algumas personalidades judias: Einstein, Freud, Moreno..é muita coisa...
Eu estou imersa nesse universo e penso ficar ainda por muito tempo. Outro evento sincrônico, foi um amigo meu revoltado com a vida raspar a cabeça e se dizer, brincar, de ser nazista. Eu fiquei atônita: eu aqui admirando os judeus e esse aí um anti-semita nato! Como pode né? Não deixa de ser uma sincronicidade, mesmo que distorcida.

Gustav Klimt






Esse pintor é um dos que mais me fascinam. Vi um de seus quadros e logo me apaixonei pelo artista. Tratava-se nada mais nada menos que: “ O beijo”. Tão delicado, tão soberbo simultaneamente. Gustav Klimt pintava figuras femininas de forma a exaltá-las. Usava um símbolo que mais parece uma língua de mariposa, isso mesmo, uma língua enrolada de mariposa que se desenrola na tentativa de se alimentar do mel das flores. Digo isso pois assisti a um filme em que o professor ensinava justamente isso ao aluno. Engraçado que eventos como esse são chamados “sincrônicos”, trata-se de uma sincronicidade, nunca ouviu falar? Bem, eventos assim são aqueles que sucessivamente vão se colocando na nossa vida de forma a um ter tudo a ver com o anterior e assim por diante. Por exemplo: Estava a pensar sobre o corpo feminino, como ele sempre foi motivo de contemplação, embora hoje haja uma banalização da mulher. Então tentava desesperadamente mudar meu ponto de vista em relação a esse evento. Então, assisto um filme que fala da língua das mariposas, enroladas e logo desenroladas para pegar o pólen das flores. Gostei da figura. Então, vou a uma livraria e lá encontro um livrinho com diversas figuras de Klimt em que todas elas havia a tal lingüinha. Como pode? E essas mesmas figuras tratavam a mulher com delicadeza e afeto, justamente o que procurava. Em todas os quadros há mulheres, algumas grávidas, outras suntuosas, algumas mais velhas, outras muito jovens. Muitas nuas, muitas vestidas com esplendorosos tecidos. Eu simplesmente apaixonei-me completamente.

A história que quero contar


A história que quero contar é um entrelaçamento, são histórias que se relacionam com as outras de maneira a uma se sobrepor a outra sem prévio aviso. È a história de uma mulher, uma pessoa que encontrou-se na literatura e começou a viver dela. As letras já não eram impressões fortuitas, não eram esquecimentos imediatos do que se acabou de ler cujo significado foge quando não se vê utilidade para ele. Não. As letras pularam dos livros e com elas o significado enobreceu-se, somado à realidade sufocante, os livros mostraram-se mestres da imaginação, da ilusão. O confortável assento em um sofá foi dono do sonho. Esse livro já o quero a tempos, já o desejo a todo o momento, é só abrir os olhos e os pensamentos saltam grotescamente querendo as páginas de algum caderno faminto pelas frases ainda não escritas. Nesse livro mesclam-se com pouca nitidez a ficção e a realidade, o conto e a crônica, a prosa poética, os não lugares comuns de uma época sombria. Bem, não é nada fácil escrever quando as privações inundam a mente com preocupações a respeito do futuro. Mas, como ele ainda não existe de forma paupável, e como não tenho a mínima idéia da justificativa de pensar a todo momento o que será dele, proponho um apanhado geral acerca do passado e do presente, deixando o futuro nas mãos do destino e do acaso. Se você não acredita nesses dois senhores do tempo, então, queira desculpar-me mas não há outra alternativa mais sensata do que acreditar neles e prosseguir no caminho.
Clarice, uma mulher cheia de ambigüidades, e qual mulher não teria tal disposição? Bem. Então deixe-me começar outra vez: Clarice, uma entre tantas mulheres cheia de ambigüidades (creio que assim está melhor), voltou-se para dentro de si com total desespero a procura de si mesma. Sua busca do tesouro perdido levou-a à reflexões sofríveis e quase acaba com a pouca saúde que tem. No entanto, Clarice é uma mulher inteligente, autêntica, forte. Eu diria tratar-se do alter-ego de um cavalherio medieval, montado em seu cavalo selvagem, a percorrer o campo ilimitado, lutando em guerras mundiais. Ela cavalga em seu cavalo, o único que possui, e quando está ali, não imagina que a guerra começou. Quero dizer, mesmo sabendo ser um cavalheiro, ela esquece-se por um momento de sua missão, e acaba por ser destroçada pela lança do inimigo. Que história hilária, parece um romance de meia tigela. Devo começar do início, pois a boa literatura informa enquanto entretém, palavras do mestre das histórias fantáticas, Isaac Singer, prazer em conhecer. Vejo que as histórias atuais são recheadas de críticas mordazes à sociedade em que vivemos, é quase uma paródia dos tempos sombrios que habitamos. Então como fugir de tamanho fulgor imaginário que preenchem as páginas de nossos escritores contemporâneos. Impossível eu diria. Os pensadores atuais são por demais cínicos, austeros, críticos em demasia e principalmente altamente realistas, sem a mínima pouca vergonha na cara. Eles falam em linguagem coloquial, chula, sem o mínimo pudor, então porque ir contra a corrente? A leitura contemporânea é assim, meu bem, chama o escritor para a realidade nua e crua, quase vomitando em cima dos valores tradicionais, parece que o mundo está “cagando e andando” para as etiquetas, e é difícil desistir de nossa animalidade em um universo corrompido até mesmo nas entranhas de seus livros. Então, amado leitor, se você está a procura de um bálsamo para suas feridas abertas, digo que dificilmente o encontrará nos livros atuais, pelo menos não no nosso recém nascido século. Até agora tudo que li a respeito de nossa sociedade, é o apodrecimento das relações humanas e seu desespero diante da finitude. Tudo bem, nem tudo são flores, mas ainda assim há esperança. Um legado de nossas antepassados é definitivamente a persistência com que alguns humanos vivem e não sucumbem na primeira tentativa. È isso mesmo que venho tentando fazer, escrevendo um livro que poucos lerão, mas que pode dar um alívio às partes mais cruas da realidade. Como assim meu amado escritor diria você? Se você já começou por definir mazelas inomináveis de nossa raça? Bem, olhar para a realidade pode ser menos cruel quando você a olha com olhos fantásticos, com olhos esperançosos. Olhe-a. Ela está a mão. Um livro a ser escrito com a docilidade das letras e suas formas artisticamente trabalhadas. Aventure-se. Eis meu convite

Estrelas de papel


Cordialmente invade o dia, subitamente caminha a aurora. Mínimos sonhos formam-se outra vez. A estrada pedregosa, de inúmeras pedras definidas em pedaços jogados aleatoriamente, a carcaça, a poeira. Dias concatenados de abismos, indefiníveis ventos fazem girar as folhas caídas das árvores gigantescas. O país é outro, o universo é diverso daquele primeiro suspiro. A respiração que deu origem à vida no cosmos. As pessoas como cordões oscilando tempestuosamente. Giram piões, rodando sobre si mesmos, enquanto crianças sorriem de “tamanho invento”. Brincadeiras sustentam afazeres, miúdas fortalezas fixam os pés no chão frio. Olhar o céu, esperança indefinida, inefável. Bondade da chuva caindo, de olhos fechados, pingos lentamente trazem o sentir afável nos olhos, na testa, no caos selvagem do corpo. E ela o espera como aguarda o nascer do sol. Ela prefere o nascer do que o pôr do imenso astro. Esse acabar-se o dia é o fim de uma jornada enorme, surda, fascinante. Quando avisto estrelas de papel, elas são as figuras oscilantes do céu. Brilham, piscando luz. Quero alcançar o instante onde a luz é eternizada. O momento em que não há palavras ou canções de nenhum artista que possa conter em si o tempo do amor.

Besame mucho


Beije-me, beije-me como se fosse a última vez. Beije-me enquanto fios de ouro enrodilham-se por sobre um mar de rosas. Um mar de sonoros cantos, beije-me enquanto a alvorada tarda e os dias mornos como pequenas esferas sonolentas dormem com cantigas de ninar. Abraça-me com força, enquanto a noite enorme engole o dia. Enquanto o verde ainda não cansou-se de sua cor, enquanto os raios ainda presos nas nuvens não soltam-se repentinos, enquanto os trovões não trazem a chuva. Enquanto ainda existo. 17:46

Dê cordas à sua imaginação


Escrever sobre o processo de escrita é o que me toma no momento de um pessimismo persistente em que a imaginação ainda não evoluiu a ponto de falar sobre outros contextos. O processo não é nada fácil como o resultado final parece mostrar. É como ver um quadro já pronto, contemplar a sua já concluída formulação não é escolher as tintas, não é passar o pincel delicadamente por sobre a tela, não é ser tomado por algo desconhecido, não é esperar que a tinta fresca seque, é apenas um olhar. Claro, que o olhar de quem contempla, o segundo olhar, é muito importante. Mas não compara-se ao criar. Criar é o movimento, é o sopro de vida, é caos selvagem imprimido no corpo que encontra a arte de se mostrar por meio da pintura, por meio de uma replicação não muito lúcida do real, por meio de um vislumbre de um sonho nas tramas do inconsciente. A mudez diante da tragédia é uma vergonha. Fechar os olhos e não querer enxergar parece ser ainda mais trágico e ilusório. Acho que falar, ouvir e ver no mundo humano não é confortador, às vezes chega a ser desesperador, chega a ser um grito de socorro. Mas, ser tomada por uma febre criativa e confrontar-se com contextos novos e brilhantes é o que de mais confortador existe, é o que livra da falta de ar, é o alento diante do cansaço, é o sim ao em vez do não. Afirmações, seja! Apareça! Existe vida e ela pode ser ornamentada, acariciada, leve e brincalhona. Olhe para a tela e pense em seu escritor. Ele a pintou de forma inusitada e aquele é um retrato de um mundo em formação. Surpreenda-se com a vida, olhe para a criatividade. Parecem ser bons conselhos. Bem, tenho tanto a falar mas as palavras por vezes me faltam, assim, como me faltam tantas coisas. Engraçado que a falta, quase que franciscana, parece me privar de destinos mais fabulosos, mas ainda assim me faz ser quem eu sou. Nasci orgulhosa, isso sei bem, se não fossem as privações teria me transformadoem uma esnobe, uma dondoca que não se importa com os outros. Mas o meu destino mostrou-se diferente, as privações vieram e eu me tornei cosnciente delas. Junto com as faltas, vieram abundâncias, e essas eu poderia dizer que me alimentam a alma e me nutrem de alegria, claro a única que cabe no corpo. "Se é que a alegria cabe em um corpo de mortes tão suaves". Bem, ela cabe sim.

Febre


Alguns escritores dizem que a inspiração é diretamente ligada ao estado corporal. Hilda Hilst,por exemplo era levada por uma febre quando escrevia. Parece que todos os escritores, mesmo que pareça uma generalização arbitrária, têm fortes argumentos sobre o seu processo criativo, parece que todos estão em um período em que não apresentam tal febre, parecem isentos de fulgor, parece que a descoloração invadiu suas mentes antes iluminadas por diversas colorações. Esse período angustiante me atacou sem prévio aviso. Na vida, há imprevistos, não é verdade? Ou o imprevisto é a regra? Bem, em todos os momentos em que escrevi, e que gostei do resultado, foram momentos em que meu corpo inclinava-se a esse ato, quase como um formigamento nas pontas dos dedos pedindo o toque nas teclas, nas letras e que aquele instrumento posto na minha frente, aquelas páginas em branco na tela do computador, fossem preenchidos com os mais ocultos mistérios e elocubrações imaginárias possíveis. Me deixava levar pelo contínuo fluxo de consciência que se interpenha aos meus afazeres diários. E esse mesmo fluxo me levava quase que por instinto ao reino das letras e dos sentimentos. Eu, como uma vítima, como uma refém de um sequestrador desconhecido que é o processo criativo que me tomava, que eram minhas indagações irrespondíveis pelo real, que era minha fome de forma e beleza, que era, finalmente, o que nasci para fazer. Os escritores, nas entrevistas, dizem que são levados por uma história ainda não contada, mas que os assombra nos sonhos e pensamentos, a trama dos personagens pede para ser encaixada no mundo real, pede que esse delicioso bocado seja concedido a algum leitor, a alguma alma desprovida de alento, como se aquela história fosse uma missão, e ela, de uma forma ou de outra devesse ser literlmente expurgada da alma do escritor para enfim nascer no mundo.

Passeios Imaginários


Encontrei um escritor Nova Iorquino chamado Paul Auster. Alguns dos livros escritos por ele: Palácio da Lua, Leviatã, A arte da fome. Esse último descreve entrevistas e críticas feitas por esse admirável escritor. Pela entrevista dá para notar seu processo criativo, e o que percebo na imensa variedade dos escritores que conheço no decorrer do tempo, é que seus livros seguem determinada tendência, gênero, forma que ligam-se irremediavelmente às suas biografias e modos de pensar. Na entrevista Paul diz que é criticado por alguns por dizer que o que escreve não é literatura realista, o que pretende ser. Paul diz que tais críticos não devem viver então no mundo real já que esse mesmo lugar está cheio de surpresas cotidianas descritas nos seus livros, que tendem a ser uma mistura de realidade e ficção, sem ter uma linha como divisão desses dois lugares- comuns. O que me lembra um filme “walking life”, que trata sobre os sonhos e como é tênue a linha divisória entre o que é verdadeiro e o que não passa de sonho. Os livros de Paul Auster chamaram-me atenção, primeiramente, quando li uma crítica no jornal devido ao seu novo livro: Desvarios do Blockin. Como sigo a tendência contemporânea no meu gosto atual, procurei-o imediatamente como que com uma avidez incontrolável em busca de um alento. Na entrevista ele cita que seus livros tem sim muito de sua biografia, e que alguns acontecimentos dentro das histórias ligam-se à sua formação intelectual. Bem, mudando um pouco de assunto, ontem fui até a Caixa econômica federal em busca da contemplação do belo, ou seja, havia uma exposição de fotografia de grandes mestres franceses. Eu não poderia faltar. Me senti uma autêntica francesa indo conhecer um pouco de sua cidade perdida. Eu estava sozinha em um imenso salão cheio de fotos. Eu e as fotos parisienses. Li nas lugares ao lado das fotos: imersão em brometo de prata. As fotos são antigas. Chamou-me atenção as fotos de Cartier Bresson, fotógrafo reconhecido que fotografava cenas cotidianas. Uma sensibilidade faltante em nossa época insípida de beleza.

Praga


Havia assistido um documentário sobre uma atriz famosa. Esse documentário me levou ao filme de François Ozon: oito mulheres. Adorei. Um filme com interpretações fortes feito por mulheres francesas. Como gosto disso! Certamente nasci no lugar errado, tenho alma francesa, tudo que seja europeu toca-me de forma inusitada. Ontem assisti um documentário sobre Praga, uma pequenina cidade Tchecoslováquia. Lá seus habitantes falavam poeticamente sobre o seu amor pelo lar onde haviam nascido. Falavam de sentimentos profundos, sobre como sentiam-se os habitantes dali. Uma mulher e seu relato chamou-me a atenção: ela disse que os que moram ali conhecem-se desde criança, cresceram juntos, os sentimentos que decorrem disso ainda não sei definir, pois não é a minha realidade, no entanto, ela disse algo: as pessoas que moram aqui vão de um humor ao outro muito rapidamente, algo que não acontece com outras pessoas, podemos estar tristes e num momento rir, ou estar rindo e bruscamente chorarmos. As pessoas dão mais importância aos sentimentos do que a razão. Isso é maravilhoso! As pessoas aqui, eu falo agora, querem ser racionais, deixam as emoções de lado e isso acaba sendo fonte de sofrimento. Afinal, os sentimentos são fortes e constantes. Os habitantes dali são fragilizados, não dão conta da realidade que os circunda. Um homem dizia que qualquer problema e os moradores dali se suicidam, não conseguem lidar com o que os habita. Um outro homem falou de algo inusitado: como no ocidente existem fast foods, lá há serviços psicológicos rápidos. Que interessante! As pessoas precisam de conselhos simples que possam ajuda-los na correria. Achei de uma sensibilidade sobrenatural. Como não gostar dali. Parece que ali é o meu lugar.

Cuba


Ontem me falaram de Cuba, fiquei pensando a respeito desse país distante. Hoje ao chegar na faculdade li a respeito em uma entrevista de um escritor e poeta exilado em Madri sob a ameaça de uma nova prisão em seu país de origem. Pensei que é preciso muita coragem para deixar o Brasil e se aventurar por novas terras. Os cubanos são um povo sofrido por anos de comunismo liderado por Fidel Castro. A entrevista dispõe sobre Cuba, o escritor afirma o que todo mundo diz, que Cuba é um país em que a educação é levada a sério, e que os índices de anafalbetismo são reduzidos. No entanto, toda a educação é voltada para o regime comunista, afim de legitimá-lo e vangloriá-lo. Leituras são proíbidas, e não deve haver contestações a respeito do regime. Contudo, o escritor diz que a democracia pode sim vir a ser instalada, mas apenas após a morte de Fidel, pois os jovens são entusiastas da democracia. O comunismo faz muito mal ao povo, já que muitos tentam a todo custo colocando suas vidas em risco a imigração para os E.U.A em que cubanos parecem properar. O dinheiro enviado por parentes da américa, ajudam muitos cubanos miseráveis. Essa imigração é proíbida e muitos morrem ao tentar. Assisti um documentário sobre essas tentativas frustradas do sonho americano. Realmente não parece fácil. Vi algumas fotos a respeito também, e pude perceber que a política é algo que devemos discutir. A política é importante, tenho algum estudo sobre ela. A ciência política cursada na católica me trouxe algum conhecimento sobre como os políticos pensam. Um povo sem bons dirigentes parece realmente afundar. Nós fazemos parte de um mundo e não estamos separados dele. O Brasil segundo reportagens pode ser chamado de Berlíndia, concordei plenamente, Berlim e Índia. Um lado rico e outro miserável. Relamente não é fácil decidir os rumos de um país, é a história que está sendo contada, a história de um povo, de uma nacionalidade, de um orgulho que deveria existir. Sou brasileria, mas penso em outros países, pois que a cultura me interessa. Sendo que os seres humanos com suas potencialidades ilimitadas parecem não poder ser livres. Uma frase: " Dizem que o homens são igualmente livres. Não é verdade. Os ricos são mais livres que os pobres". Eu concordei plenamente. Mas isso não tira a dinamicidade humana, sempre se reconstruindo, sempre se levantando de suas piores desgraças. Um exemplo disso é o escritor Isaac Singer, de uma família judia, pobre. Esse povo judeu tem um humor essencialmente diferente, um humor diante da tragédia. Acho que se temos histórias fortes, podemos sair de um mundo limitado exterior e esteriotipado, e migrar para terras mais amenas. O povo judeu é um povo contador de histórias, um povo em que a metáfora e o modos de ser humano são entrelaçados a costumes. Isso leva a um idealismo, em meio a pobreza. Se os pobres fossem idealistas, o país seria diferente. É a conclusão que tomo diante de tamanha dificuldade, os que gostam de histórias e de idealismo vencem suas dificuldades e avançam. Caminhar em meio a pedregulhos pode ser complicado, mas não olhar para eles é diferente. " é mais difícil vencer um fantasma do que uma realidade". Isso é verdade, pois o fantasma é o imaginário saturado de proibições e impedimentos, enquanto a realidade pode produzir sentidos novos. Os judeus são um povo sofrido, mas encontram dentro de sua história uma identidade que transcende o tempo, que não se fia somente a realidade, mas em que os modos de vidas são cultivados a milenios, tem rituais que incorporam valor as coisas mais simples, a datas comemorativas, por exemplo. Todo povo guia sua história estabelecendo mitos. E esses mitos são os que olham além.