Força estranha

eu vi um menino correndo
eu vi o tempo brincando ao redor
do caminho daquele menino,
eu pus os meus pés no riacho.
e acho que nunca os tirei.
o sol ainda brilha na estrada que eu nunca passei.
eu vi a mulher preparando outra pessoa
o tempo parou pra eu olhar para aquela barriga.
a vida é amiga da arte
é a parte que o sol me ensinou.
o sol que atravessa essa estrada que nunca passou.
por isso uma força me leva a cantar,
por isso essa força estranha no ar.
por isso é que eu canto, não posso parar.
por isso essa voz tamanha.
eu vi muitos cabelos brancos na fonte do artista
o tempo não pára no entanto ele nunca envelhece.
aquele que conhece o jogo, o jogo das coisas que são.
é o sol, é o tempo, é a estrada, é o pé e é o chão.
eu vi muitos homens brigando. ouvi seus gritos
estive no fundo de cada vontade encoberta,
e a coisa mais certa de todas as coisas.
não vale um caminho sob o sol.
e o sol sobre a estrada, é o sol sobre a estrada, é o sol.
( Caetano Veloso)