sábado, janeiro 06, 2007

C.S Lewis

segunda-feira, janeiro 01, 2007

Todo futuro es fabuloso

Enquanto a Nastenka cresce há todo um futuro pela frente. Ver um bichinho crescer é como renovar-se, saber que a vida continua com seus destinos fabulosos, com suas estradas intrincadas. A frase que dá tema ao texto é de Alejo Carpentier, escritor cubano. Ouvi falar de Alejo pela primeira vez em uma exposição de arte cubana no CCBB, ao ver os quadros de um determinado artista, uma senhora que me pareceu sofisticada em seu gosto artístico e histórico, falou-nos (meu irmão estava comigo) do escritor que era um de seus prediletos. Citou seu livro "O Século das luzes" principal livro do autor ambientado no século 18, sempre é lembrado quando o assunto é literatura latino-americana. Espero ter a oportunidade de lê-lo.
A frase "Todo futuro es fabuloso" inicia o livro "A jangada de pedra" de José Saramago, um livro que comecei a ler e me pareceu interessante. Não sei ainda do que se trata a história embora esteja curiosa.
O novo ano começa amanhã, o nome Nastenka é bem propício para discutir esse ano que se inicia, seu significado é “ressurreição”, o que me lembra um livro lido há pouco sobre teatro judeu: “Por que, por que, do cimo das alturas, caiu a alma no mais profundo dos abismos? A queda, em si mesma, contém a ressurreição...”
Ou outra frase de Rilke “ a queda mesmo foi pretexto para ser nascimento supremo”. Ou seja, o tema refere-se a um novo nascimento, como o ano que se inicia. E assim somos nós “sempre a matar a morte, sempre a viver a vida”, outro texto que veio à memória. O nascimento de um novo ser, como de um novo ano, é um acontecimento festejado, pois o futuro sendo ainda misterioso, guarda surpresas e variedades de fatos surpreendentes. Um presente de natal “ O mundo de Sofia” veio me ensinar algo que tenho tentado viver, é o olhar infantil que nunca deve ser perdido, no livro o escritor norueguês usa a metáfora do coelho, o que sempre me lembra “Alice no país das maravilhas”, sabe, o coelhinho que leva Alice para suas aventuras. O coelhinho parece um símbolo enigmático, toda vez que há uma história de mistério, algo a ser desvendado, a figura do coelho sempre aparece. No mundo de Sofia o coelho é o lugar onde estão as pessoas comuns e as outras curiosas. As pessoas comuns são aquelas que se acostumaram com o cotidiano e perderam a sua capacidade de maravilhar-se com o novo, essas pessoas estão lá debaixo do pelo do coelho, como carrapatos que se prendem na bonança, e ficam ali, sugando o alimento, sem pestanejar. As pessoas que ainda têm um olhar para o novo, escalaram o pelo, e estão lá na pontinha, sabendo que o universo é imenso, e ficar quietinho ali não satisfaz sua sede. O coelho é como o planeta Terra, estando na ponta do pelo, tornamo-nos filósofos, ou talvez, aprendizes que não se cansam de procurar, não se cansam de criar perspectivas novas. A figura do coelho apareceu também em um filme que assisti recentemente “O labirinto do fauno”, se você prestar bem atenção há uma refeição em que um coelho é servido. O filme conta à maneira do gênero maravilhoso, me refiro aos contos de fada, a história da Espanha, que passou por dificuldades políticas, até restabelecer a Monarquia. Como diz o próprio tema, a protagonista do filme passará por um labirinto de provas até chegar à realeza. Engraçado que a maioria do contos de fada, ou que já li a respeito, sempre são histórias de crescimento, os personagens como Chapeuzinho vermelho, João e Maria e outras passam por dificuldades, saem de casa, enfrentam os perigos do mundo exterior, do bosque, e acabam passando por metamorfoses que os tornam mais maduros, e mais propensos para enfrentar a vida. Nem sempre há lenhadores na floresta para livrar-nos dos perigos, e sair do conforto do lar é a prova máxima de que crescemos e precisamos nos adaptar às mudanças. O fauno é uma figura que não sabemos de início se é boa ou má, trata-se de um animal mitológico metade homem metade cabra. Essa ambigüidade dá a ele um tom de escárnio e oscilando entre confiança e desconfiança. O fauno aparece também em “As crônicas de Nárnia” e me lembrou da figura do centauro de “O centauro no jardim”. A figura de um ser que é metade homem, metade animal nos fala muito de nossa animalidade que nos assusta e ao mesmo tempo é a causa de nossa existência. Imagina que as relações amorosas são permeadas por nosso lado racional e animal. Ao mesmo tempo que ficamos a filosofar sobre o que o amor significa, e como chegamos à verdade, temos a necessidade de apego e confiança, temos a parte egoísta que quer o prazer a qualquer custo. Li um livro de Victor Hugo, Do Grotesco e do Sublime, que exemplifica bem esse costume. Segundo ele, o belo não existe sem o feio, faz parte dos contrários, das ambigüidades do ser humano. O belo clássico tem um visual kisch, aquele que procura a perfeição a qualquer custo, sendo que a arte grotesca veio trazer à luz o que todos queriam que permanecesse oculto, ou seja um pouquinho da escória do mundo. O ser humano não vive sem ideais, e o símbolo é o que funda as diversas culturas. A literatura é uma forma de abstrair-se porque a realidade não basta, é preciso fantasiar, é preciso viajar por entre os bosques da ficção, para enfim encontrar a salvação do belo. Segundo Victor, três épocas resumem a literatura: a idade lírica, a epopéia e o drama. Vivemos na época do drama, da tragédia ligada ao cômico, do grotesco enfim descoberto nos labirintos escuros, “ O caráter do drama é o real, o real resulta da combinação bem natural de dois tipos, o sublime e o grotesco, que se cruzam no drama, como se cruzam na vida e na criação, porque a verdadeira poesia, a poesia completa, está na harmonia dos contrários”.