terça-feira, fevereiro 02, 2010

Ser como a pipa

Pense no que você faria se quase todos os dias da sua vida, você morasse em um bairro considerado periferia mas sua vida estivesse ligada especialmente à metrópole a alguns quilômetros de distância, e se deparasse com classes diferentes de pessoas, com poder aquisitivo maior do que os que te cercam. Eu penso bastante nisso. Num país capitalista como o nosso, e globalizado, o poder aquisitivo conta para tudo. Enquanto crianças brincam com seu psp, um eletrônico caro infantil, outras no bairro menos próximo se divertem jogando pipa. E não só as crianças mas muitos adultos, sejam pais ou amigos. Enquanto outros brincam com a tecnologia, outros brincam de olhar para o céu. Isso me intriga. Eu vou para a metrópole, e quando volto ao meu bairro me deparo com pipas no céu, e os olhinhos atentos dos pequenos no céu onde a pipa está muito alta, não só uma, mais várias, colorindo o céu. Porque eles não fazem outra coisa, penso. Sabe, um dia voltando cansada para casa, insatisfeita com a minha vida, e triste por morar longe da riqueza e do glamour, mas no meu bairro histórico, e cheio de crianças, as vi olhando para cima. Eu olhei também. E imaginei que olhar para cima é melhor do que olhar para os lados. O céu azul, as nuvens, o dia ensolarado, as convidava a correr, e tentar empinar a pipa o mais alto que pudesse. Isso muda a pespectiva de qualquer um. Eu estava olhando para o chão e só enxergava o chão, enquanto aquelas crianças, estavam fazendo a coisa certa. Olhar para cima, é o melhor remédio. Elas não se preocupam com as coisas que acontecem ao seu redor, a pobreza, ou a falta de recursos enquanto estão ali, simplesmente atentas ao papel da pipa, que é ficar cada vez mais alta, sinônimo de liberdade. Eu fiquei com vontade de ser uma pipa guiada por uma criança. Pois só assim com esses olhos esperançosos poderia chegar mais perto do céu.

Musica

Quero um instrumento musical na minha sala de estar. Acostumei com o piano na minha casa de origem. E acho lindo colocar um objeto assim logo na entrada da casa. As pessoas sempre ficam curiosas, logo perguntam que toca, ou querem saber onde comprou etc. Um piano é especialmente encantador, fiquei sabendo ontem que a vizinha toda a vez que visitava a minha casa, tinha uma certa inveja de possuírmos um piano, na época ela não tinha dinheiro para comprar, era empregada doméstica, hoje melhorou de vida, comprou até a casa da antiga patroa e mora em frente da minha casa. Um dia perguntou se não puderíamos vender o piano para ela, pois queria um na sua casa. Outros parentes acham que temos dinheiro a mais, pois temos um piano em casa. Bem, eu não estou pensando em glamour, ou gerar inveja em ninguém. Eu quero um instrumento na minha casa, seja um piano, um violino, um violaocelo, ou um acordeon. Para despertar aos que visitarão a minha casa, o interesse pela música. Acho delicado, gentil, dá um sentido de significado. Ou algo diferente quando você entra em uma casa onde as pessoas se interessam por música. Seja erudita ou popular. Fui a uma apresentação de música onde alunos tocavam os seus violinos, e cada um tinha um modo particular de tocá-lo, seja pela escolha da música, mais alegre ou mais triste, seja o modo como o seguravam firme no pescoço. A relação do isntrumento com o seu possuidor é mais do que simplesmente um profissionalismo, é mais algo emotivo e diferenciador. Alguém que não toque violino não pode saber o que significa isso. Tanto que os violinos são bem guardados e frágeis. Deve-se saber tocá-lo com sensibilidade. Não é para qualquer pessoa. É para os que se dedicam, os de talento, os sortudos, enfim.