
Pense no que você faria se quase todos os dias da sua vida, você morasse em um bairro considerado periferia mas sua vida estivesse ligada especialmente à metrópole a alguns quilômetros de distância, e se deparasse com classes diferentes de pessoas, com poder aquisitivo maior do que os que te cercam. Eu penso bastante nisso. Num país capitalista como o nosso, e globalizado, o poder aquisitivo conta para tudo. Enquanto crianças brincam com seu psp, um eletrônico caro infantil, outras no bairro menos próximo se divertem jogando pipa. E não só as crianças mas muitos adultos, sejam pais ou amigos. Enquanto outros brincam com a tecnologia, outros brincam de olhar para o céu. Isso me intriga. Eu vou para a metrópole, e quando volto ao meu bairro me deparo com pipas no céu, e os olhinhos atentos dos pequenos no céu onde a pipa está muito alta, não só uma, mais várias, colorindo o céu. Porque eles não fazem outra coisa, penso. Sabe, um dia voltando cansada para casa, insatisfeita com a minha vida, e triste por morar longe da riqueza e do glamour, mas no meu bairro histórico, e cheio de crianças, as vi olhando para cima. Eu olhei também. E imaginei que olhar para cima é melhor do que olhar para os lados. O céu azul, as nuvens, o dia ensolarado, as convidava a correr, e tentar empinar a pipa o mais alto que pudesse. Isso muda a pespectiva de qualquer um. Eu estava olhando para o chão e só enxergava o chão, enquanto aquelas crianças, estavam fazendo a coisa certa. Olhar para cima, é o melhor remédio. Elas não se preocupam com as coisas que acontecem ao seu redor, a pobreza, ou a falta de recursos enquanto estão ali, simplesmente atentas ao papel da pipa, que é ficar cada vez mais alta, sinônimo de liberdade. Eu fiquei com vontade de ser uma pipa guiada por uma criança. Pois só assim com esses olhos esperançosos poderia chegar mais perto do céu.